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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O Diário de um Mártir


<< Hoje é o dia de São Padre André, um homem que com outros 116 foram martirizados na ásia por testemunharem a fé cristã, isso a menos de 300 anos. Na liturgia das horas destes santos lê-se uma carta de um deles, presos e já prontos para receber, de cabeça erguida a coroa do martírio. >>

Da Carta de Paulo Le Bao-Tinh aos alunos do Seminário de Ke-Vinh, de 1843
(Launay, A., Le clergé tonkiois et se prêtres martyrs, MEP, Paris, 1925, pp. 80-83)
(Séc.XIX)

A participação dos mártires na vitória de Cristo Rei
Eu, Paulo, preso pelo nome de Cristo, quero levar ao vosso conhecimento as minhas tribulações
cotidianas que me assaltam de todos os lados, para que, inflamados pelo amor de Deus, possais
louvá-lo, porque a sua misericórdia é eterna (Sl 117,1).

O meu cárcere é verdadeiramente uma imagem do fogo eterno. Aos cruéis suplícios de todo
gênero, como grilhões, algemas e ferros, juntam-se ódio, vingança, calúnias, palavrões,
acusações, maldades, falsos testemunhos, maldições e, finalmente, angústia e tristeza. Mas
Deus, que outrora libertou os três jovens da fornalha acesa, sempre me assiste e libertou-me
dessas tribulações, que se tornaram suaves, porque a sua misericórdia é eterna!

Graças a Deus, no meio desses tormentos que continuam a apavorar os outros, sinto-me alegre e
contente, pois não me julgo só, mas com Cristo. Nosso Mestre suporta todo o peso da cruz,
deixando-me apenas uma pequena e ínfima parte: não é só testemunha do meu combate, mas
combatente, vencedor e consumador de toda luta. Assim, sobre sua cabeça é que foi colocada a
coroa da vitória, de cujo triunfo participam também os seus membros.

Como, porém, Senhor, suportar tal espetáculo, ao ver diariamente os imperadores, os mandarins
e seus soldados blasfemarem vosso santo nome, quando estais acima dos querubins e serafins?
(cf. Sl 79,3). Eis que a vossa cruz é calcada pelos pagãos! Onde está a vossa glória? Ao ver tudo
isso, me inflamo por vós, preferindo morrer com os membros amputados, em testemunho do
vosso amor!

Mostrai, Senhor, o vosso poder, salvando-me e protegendo-me. Que a força se manifeste na
minha fraqueza e seja glorificada ante os gentios, pois, se eu vacilar no caminho, vossos
inimigos, cheios de orgulho, poderão levantar as cabeças.

Caríssimos irmãos, ao ouvirdes tudo isto, dai alegremente graças imortais a Deus, do qual
procedem todos os bens. Bendizei comigo o Senhor, porque a sua misericórdia é eterna! Minha
alma engrandeça o Senhor e meu espírito exulte de alegria em Deus, meu Salvador; porque
olhou para a humildade de seu servo (cf. Lc 1,46-48), todas as gerações me proclamarão
bendito, porque a sua misericórdia é eterna!

Cantai louvores ao Senhor, todas as gentes, povos todos, festejai-o (Sl 116,1),porque Deus
escolheu o que é fraco no mundo para confundir os fortes, e o que é vil e desprezível (1Cor
1,27-28), para confundir os nobres. Pelos meus lábios e inteligência, Deus confunde os
filósofos, os discípulos dos sábios deste mundo, porque a sua misericórdia é eterna!

Tudo isto vos escrevo, para unirdes à minha a vossa fé. No meio desta tempestade lanço a
âncora, a viva esperança que trago no coração, até ao trono de Deus.

Caríssimos irmãos, correi de tal modo que possais alcançar a coroa: revesti-vos com a couraça
da fé (1Ts 5,8), tomai as armas de Cristo, à direita e à esquerda, segundo os ensinamentos de
São Paulo, meu patrono. É melhor para vós entrar na posse da vida comum só olho ou
privados de algum membro (cf. Mt 5,29), do que serdes lançados fora com todos eles.

Vinde em meu auxílio com vossas preces, para que possa combater, segundo a lei, o bom
combate, e combater até o fim, encerrando gloriosamente a minha carreira. Se já não nos
podemos ver nesta vida, tal felicidade nos está reservada para o futuro, quando, junto ao trono
do Cordeiro imaculado, exultantes com a alegria da vitória, cantaremos em uníssono
eternamente os seus louvores. Assim seja.

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