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quinta-feira, 3 de março de 2011

Testemunha Interior | São Gregório Magno



Testemunha interior
Quem é escarnecido por seu amigo, como eu, invocará a Deus que o atenderá. Com
freqüência o espírito fraco, ao receber o bafejo da fama humana por suas boas ações,
deixa-se levar para as alegrias exteriores, chegando a interessar-se menos pelo que
deseja interiormente. Deleita-se, então, languidamente no que ouve de fora. Alegra-se
mais por ser chamado de bem-aventurado do que por sê-lo de fato. Esperando com
avidez as palavras de elogio, abandona o que começara a ser. Separa-se de Deus
justamente naquilo que deveria ser louvado em Deus.

Às vezes, ao contrário, o homem firma-se com constância no agir reto e, no entanto, é
maltratado pelas zombarias humanas. Faz coisas admiráveis e só encontra opróbrios.
Podendo exteriorizar-se pelos louvores, é repelido pelas afrontas e volta-se para dentro
de si mesmo. Em seu íntimo, enche-se de tanto maior força em Deus quanto não
encontra fora onde repousar. Fixa toda a sua esperança no Criador e, entre as zombarias
ruidosas invoca sua única testemunha, a interior. Torna-se assim o espírito aflito, tanto
mais próximo de Deus quanto mais estranho aos aplausos humanos. Expande-se sem
cessar em oração e, premido no exterior, com mais nitidez se purifica para penetrar nos
bens interiores. É com razão, pois, que aqui se diz: Quem é escarnecido pelo amigo,
como eu, invocará a Deus que o atenderá, porque quando os maus censuram a intenção
dos bons, revelam que testemunha desejam para seus atos. O espírito ferido mune-se de
força pela oração e alcança ouvir dentro de si as palavras do alto por ter-se separado do
louvor humano.

É de notar a justeza do inciso: como eu; pois há alguns que são depreciados pelas
críticas humanas, mas que não são atendidos pelos ouvidos divinos. Porque a zombaria
provocada pela culpa não importa em nenhum mérito da virtude.

Ri-se da simplicidade do justo: a sabedoria deste mundo está em esconder as
maquinações do coração, velar o sentido das palavras, mostrar como verdadeiro o que é
falso, demonstrar ser errado aquilo que é verdadeiro.

Pelo contrário, a sabedoria dos justos consiste em nada fingir por ostentação; declarar o
sentido das palavras; amar as coisas verdadeiras tais como são; evitar as falsas; fazer o
bem gratuitamente; preferir tolerar de bom grado o mal a fazê-lo; não procurar vingança
contra a injúria; reputar lucro a afronta, em bem da verdade. Zomba-se, porém, desta
simplicidade dos justos porque para os prudentes deste mundo a virtude da pureza de
coração é tida por loucura. Tudo quanto se faz com inocência,eles reputam tolice e
aquilo que a verdade aprova nas ações, soa falso à sabedoria humana.

Dos Livros “Moralia” sobre Jó, de São Gregório Magno, papa

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